sexta-feira, maio 28, 2010

Trecho de "Committed"

"Certa vez no passado, o dramaturgo grego Aristófanes relata, havia ouro no Céu e humanos na Terra. Mas nó humanos não éramos como hoje em dia. 

Ao invés disso, cada um de nós tinha duas cabeças, quatro pernas e quatro braços - uma perfeita junção, em outras palavras, de duas pessoas unidas, conectadas e formando um só ser. Nós existíamos em três possíveis variações de sexo: homem/mulher, homem/homem, mulher/mulher, dependendo do que servia melhor para cada criatura. Já que cada um de nós tinha o parceiro perfeito "costurado" em nós mesmos, éramos todos felizes. Assim, nós, perfeitas e contentes criaturas, nos movíamos pela Terra da mesma forma que os planetas viajam pelo universo - sonhadores, ordenados, suavemente. Nós não sentíamos falta de nada; nós não tínhamos necessidades algumas; nós não queríamos mais ninguém. Não havia brigas e nem caos. Nós éramos completos.

Por sermos completos, nós viramos excessivamente orgulhosos. Em nosso orgulho, nós negligenciamos a adoração dos deuses. O Todo Poderoso Zeus, então, puniu nossa negligência cortando nossa cabeça dupla e nossos oito membros, dividindo os humanos pela metade e criando um mundo cruel de criaturas com apenas uma cabeça e quatro membros. 

Nesse momento, Zeus instituiu a mais dolorosa condição humana: a constante sensação de que não éramos mais completos. Para toda a eternidade, humanos nasceriam sentindo que havia uma parte faltando - uma parte perdida que nós amamos até mesmo mais do que amamos a nós mesmos - e essa parte que falta estava em algum outro lugar, andando pelo planeta na forma de outra pessoa. Nós também nasceríamos acreditando que um dia encontraríamos essa outra metade, a outra alma. Nos unindo com outro, nós iriamos reconstituir nossa forma original, e nunca mais experimentar solidão novamente.

Essa é o desejo e fantasia de todo ser humano: que um mais um será, um dia, igual a Um."