domingo, março 30, 2014

E quem é que sabe?

Existem momentos e locais em que você alcança a plenitude do seu ser - um cantinho no mundo que faz florescer aquilo que você verdadeiramente trás dentro de si. Tenho uma amiga que encontrou seu verdadeiro eu depois que virou mamãe. E outra que antes era uma estudante tensa de medicina que resolveu largar tudo para seguir seu sonho: a faculdade de cinema. 

Mas acho que muitas vezes desconhecemos essa face que trazemos dentro de nós porque ficamos muito preocupados com o fatores externos - casar porque todos estão casando, manter o emprego que é mais convencional, seguir os caminhos que sempre tivemos dentro da mente como "o caminho certo".

Conheci uma mulher espanhola de quase quarenta anos que viaja o mundo para tirar fotografias. Ela não mora numa cidade específica, realmente mora na estrada, e tem vários livros e revistas lançados com as fotos que tira. Admiro muito as pessoas que tem essa coragem de largar tudo e cair na estrada sem data para voltar para seus países. Ela me contou que tinha sido casada quando tinha uns vinte e poucos anos, mas acabou se separando pouquíssimos anos depois... "Ele era meu namorado da faculdade, quando nos formamos, já era certo que casar era o próximo passo a ser tomado". Na minha inocência (e talvez por eu ter me identificado um pouco com a vida que ela leva) perguntei quando ela pretendia parar de viajar para se estabilizar. E claro que a resposta dela foi um belo "e por que diabos eu faria isso?".

E isso instantaneamente me levou para os momentos em que eu me senti tão culpada por todas as vezes em que não aguentava mais estar na minha cidade e ansiava fortemente pela chegada das minhas viagens. Tem alguma coisa dentro de mim que me faz sentir plena quando estou nessas experiências. Um ladinho de mim toma conta do meu ser de forma que talvez meus próprios amigos não reconhecessem - cada pedacinho do meu corpo e mente de repente viram 100% daquilo que nasceram pra ser. Não tenho a pressão do "dever ser" aqui. E o que é mais interessante: você para pra ver que existem pessoas com vontades tão estranhas quanto as suas - ou até mais.

Encontrei um grupo religioso de americanos que eu JAMAIS diria que são jovens membros de uma igreja protestante. Os conheci num estúdio de tatuagem enquanto um deles estava fazendo - acredite você - dreads no cabelo! Quando fui fazer rafting, conheci um casal bem jovem de dinamarqueses que resolveram dar uma pausa na vida para viajar por um ano pela região oeste da Ásia. Por que? "Não sabemos.. Só escolhemos na doida mesmo."

Hoje é meu último dia no Nepal (ainda vou escrever sobre os dias passados, pois não tive tempo). Tem um nó enorme no meu estômago, pois eu realmente não queria ir embora ainda, mas minhas aulas em Nice começam amanhã, e por isso não vou poder estender minha estadia. Em nenhum momento dessas semanas me senti sozinha. Não dá tempo. Ou você está sempre acompanhado dos amigos da residência, ou - o que é melhor ainda - você está acompanhado de um lado de si que não conhecia antes. 

Tive um crescimento aqui que jamais imaginaria ter. Apesar do pouco tempo, não sei colocar tudo em palavras muito bem. Descobri que a inconstância que enxergam em mim vem do meu constante dilema entre minha curiosidade de mundo, e meu medo de perder a segurança do "estável". Não consigo meter o pé na estrada sem saber que tenho um cantinho seguro com data certa para voltar, mas também não consigo ser feliz, pelo menos por enquanto, fincando meus pés num só lugar - meus amigos e família sabem o quanto eu me torno insuportavelmente mal humorada, né? Sempre achei que estava errada por essa tendência a buscar coisas diferentes, até que conheci pessoas que também são assim. 

O que quero dizer é: sinceramente sinto que não tem fórmula para a felicidade - a gente lê isso em todo canto, né? Mas se sentir livre de verdade para fazer suas próprias escolhas nem sempre é fácil. Sei que as vezes sou injusta com a cidade em que moro, mas é muito difícil se sentir adequada num local onde todos julgam sua vida de acordo com um padrão certo de comportamentos. Casar antes de tal idade. Ter tantos filhos. Fazer uma festa de casamento em tal buffet. Só comer clara de ovo, para #ficargrandeporra - hahaha. 

Nessa viagem me livrei de todos os fragmentos de receios e culpa que senti por não me adequar nas expectativas que os outros tem de mim - claro que sempre nos importamos com a opinião dos outros. Mas parei de me angustiar por não encontrar dentro de mim vontades que algumas pessoas tem desde sempre. Existe um momento em que você se depara com a pergunta "que tipo de mulher eu vou ser?". Aprendemos que temos que ter tudo ao mesmo tempo: a carreira, o marido, o tempo para cuidar da família, o look, as viagens, o carro do ano... Pois eu finalmente entendi que não quero ser essa mulher.

Ah, sei lá, deixa teus instintos te levarem. Eu não sei o que o meu futuro me reserva. Mas e quem é que sabe?

quarta-feira, março 26, 2014

As Mulheres do Nepal

Semana passada levamos algumas crianças do orfanato ao cinema. Assistimos a um filme chamado Queen, de Bollywood, que contava a história de uma garota de uma família bem tradicional indiana que é deixada pelo noivo, e fica de coração partido, mas ainda assim resolve viajar sozinha para a Europa com as passagens que tinham sido comprada para sua lua de mel. Daí na viagem ela se transforma numa mulher mais moderna, conhece pessoas de várias partes do mundo, aprende a ser mente aberta, compra roupas diferentes, etc e tal... Para mim, não foi uma história surpreendente, mas depois de entender um pouco mais sobre as mulheres dessa região da Ásia, compreendi que o efeito deste filme aqui é mais impactante. Teve um momento em que apareceu um sutiã em cima da cama da personagem, e a imagem aparece meio tremida. Minha amiga Maria me explicou que aqui a imagem de lingerie é censurada, e que mulheres não falam a palavra "calcinha" ou "sutiã" se há um homem presente. No filme, a personagem - que já tinha sido NOIVA - conhece um chef italiano e dá seu primeiro beijo (!!!!). Uma das coordenadoras daqui, uma garota nepalesa de uns vinte e poucos anos, me explicou em meio a risadinhas que nem sempre homens e mulheres se beijam antes de casar. 


 O casamento é o momento mais importante da vida da mulher nepalesa, já que isso determinará o resto de sua vida - geralmente os casamentos são arranjados pelos pais. A sociedade é dividida em castas, então as vezes há uma liberdade maior entre as castas mais baixas quanto à escolha do seu marido. Em algumas regiões, a bigamia é muito comum. Infelizmente, muitas mulheres sofrem agressões físicas e psicológicas em seus lares, mas a lei do país não as protege se elas resolvem se divorciar. As mulheres são, na prática, subordinadas aos homens.

Minha amiga Linda, da Alemanha, me contou que teve que escrever um artigo sobre as causas da grande quantidade de estupro em países como a Índia e o Nepal. Na maioria das vezes, os casos de agressão sexual são feitas por grupos de rapazes jovens. E quando a mulher procura a polícia, geralmente é estuprada novamente pelos policiais - "para aprender a lição". Lamentavelmente, a proteção dada à mulheres é bem fraca. A mentalidade patriarcal é a razão principal para que a violência. No Nepal há uma cultura de silêncio pela falta de apoio e a dificuldade de recorrer ao sistema legal.

Li que a ONU faz sua análise do status das mulheres de um país levando em conta o acesso à educação, recursos financeiros, poder político e sua autonomia pessoal para tomar decisões. Quanto analisado por esse contexto, o status das mulheres do Nepal é bem abaixo da média. Por ser uma sociedade patriarcal, a vida de uma mulher, conforme os costumes e conforme as leis, é quase que completamente controlada por seu pai ou marido. E elas não tem direito à herança. Minha impressão foi que, ao se casar, a mulher nepalesa passa a ser uma espécia de empregada do marido.

Minhas impressões das mulheres daqui foram positivas: elas são bem humoradas, simpáticas, prestativas e estão sempre sorrindo para você. A típica mulher nepalesa geralmente tem cabelos longos e escuros - algumas fazem mechas avermelhadas. Elas vestem trajes parecidos com os saris indianos chamado de guniu. O guniu pode ser trançado com algodão ou tecidos de seda. No Nepal, o sari é comumente preso ao redor da cintura e usado com um xale em separado como enfeite na parte de cima do corpo. O estilo de dobras é chamado de "haku patasi". Muitas vestem calças e roupas mais modernas, mas não mostram os ombros e nem as pernas. Nós voluntárias fomos instruídas a não usar roupas coladas ou vestidos justos.




As feições da nepalesa lembram um pouco as chinesas, pois tem os olhos puxadinhos, mas são um pouco morenas como as mulheres indianas. Elas geralmente usam aquele pontinho vermelho no meio da testa, e usam maquiagem forte nos olhos. Para minha surpresa, vi muitas meninas novinhas (de uns 3 ou 4 anos de idade) maquiadas! 



Mais da metade da população feminina do país é analfabeta, e são escassas as mulheres que estudaram inglês. A maioria das mulheres trabalha no campo, cultivando vegetais ou arroz.

Durante o período de sua menstruação, as mulheres não podem entrar em casas ou templos nem usar a rede pública de águas. A participação em festivais também lhes é vedada e nem sequer podem tocar noutras pessoas, segundo informação das Nações Unidas.

Parábola Hindu

Uma parábola hindu conta que certa vez, havia um velho cão que fora abandonado pelo dono em uma floresta por não mais lhe servir de utilidade no pastoreio. Aconteceu que, o velho cão ao caminhar pela tenebrosa floresta percebeu que estava sendo observado por uma onça, que se encontrava ali a espreita pronta para dar uma investida.

Pensou então o velho cão:- Ora, se eu correr, estou velho demais para agüentar a corrida e se eu ficar e lutar, provavelmente perderei a luta pela minha já avançada idade.
Devido a difícil situação, o cão enxergou próximo a ele uma ossada, que o deu uma idéia. Ele mordeu a ossada, virou de costas para a onça e disse:- Que onça mais gostosa! Como seria bom que aparecesse mais uma, para enfim, poder saciar a minha fome!

A onça, diante disso, não teve outro meio senão correr o mais longe possível, já que o cão era um devorador de onças.

Porém havia um macaco que observara tudo em cima da árvore e ficou enciumado com a esperteza do velho cão e assim pensou:- Puxa! Tanto tempo que venho fugindo da onça aqui em cima da árvore e esse cachorro nem se movimentou para afastá-la. Já sei! Contarei para a onça a farsa do cão e assim, ele não me caçará mais.

Refletindo isso, o macaco foi à procura da onça e falou sobre a mentira que o velho cão contara. A onça, por sua vez, agradeceu ao macaco e fez um pacto com ele dizendo:- Puxa macaco, você é meu amigo mesmo! A partir de hoje não vou te caçar mais, e como prova disso, vou deixar você subir em minhas costas enquanto eu pego aquele cachorro. Sobe aí e vamos logo.

Assim fez o macaco, subiu nas costas da onça e juntos foram a caça do velho cão. Ali perto, no entanto, já estava o cão a espreita e de tal forma falou:
- Cadê aquele macaco safado que ficou de me trazer mais uma onça?

domingo, março 23, 2014

Religiões

Me interesso muito pelo estudo das religiões. Quando você sabe as crenças de uma pessoa, fica mais fácil entender suas perspectivas. Desde o início do tempo, as religiões desse mundo tem sido os fatores mais influentes no comportamento das sociedades - o modo de vestir, de falar, de se comportar, e até mesmo de se alimentar. Até mesmo o estudo da mitologia grega é importante - de que outra forma entenderíamos o significado de expressões como "calcanhar de aquiles", ou "fulano é narcisista demais"?

Além disso, ao longo da História é possível perceber a conexão entre religião e as leis de um local. Mesmo em tempos atuais, existe aquela pontinha de influência. Já viram que na Constituição Federal do Brasil - que é um país laico - tem um trechinho no prólogo, dizendo "Nós, representantes ... promulgamos, sob a proteção de Deus..."?

Achei interessante ler que, segundo Buda, você será feliz profissionalmente quando descobrir o seu dom para o trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele. Curiosamente, isso me lembrou uma palestra que ouvi do pastor americano Mike Murdock. Ele estava falando de um dia em que estava observando a pesca de peixes tropicais: Quando o peixe era colocado no chão, ficava se mexendo sem muito entusiasmo, e Murdock pensava "Nossa, peixes são criaturas tolas: não andam, não rastejam, e não emitem sons.". Mas então, quando os peixes eram arremessados de volta para os rios, eis a genialidade e rapidez com a qual seus corpos se movimentam!

Assim somos nós: precisamos encontrar nosso lugar no mundo. Euzinha aqui achava o máximo a idéia de ser pilota de avião quando era pequena. Mas temos que conhecer nossos limites, também. Imagina se eu fosse me guiar só pelo que minha mente determina? Morro de medo de altura... Logo, digamos que eu seria uma péssima pilota, né? 

Quando você parar para refletir sobre seus dons, vai encontrar exatamente o local onde deve exercê-los. E ninguém poderá competir com você, porque aquele é SEU lugar. Não adianta querer ser um renomado pediatra se você nem mesmo gosta tanto de crianças, ou estudar que nem louco para ser juiz quando você não tem a mente aberta necessária para ser imparcial nos processos que chegarem a sua mesa.

Vê como duas religiões tão diferentes trazem filosofias de vida tão similares?

Quando ficamos teimosos em achar que nossas crenças são as únicas verdades do planeta, nos tornamos cegos. Saiba ver as coisas com o coração, seja na área da religião, seja em qualquer outra.

23 de Março

Depois que saí do colégio, perdi aquela referência de "melhor amigo". Passei a ver que, na verdade, temos alguns amigos que são ótimos para certas situações, e outros que encaixam melhor em situações diversas. Mas fato é que em todo amigo que tenho, reconheço um lado meu - acho até que é reconhecendo características nossas em outras pessoas que construímos nossas amizades, né?

Por alguma razão, as experiências daqui do Nepal me fazem lembrar muito da minha amiga Jéssica. Estudei com ela no ensino fundamental, no Ida Nelson. Em quase todas as lembranças que tenho daquela época, ela está presente. Nos distanciamos no ensino médio, mas logo retomamos o contato quando começamos a faculdade. E desde lá, somos um pouco inseparáveis, mesmo quando distantes. Viajei com ela para Vancouver alguns anos atrás. Apesar de eu não ter me identificado muito com a cidade (eu normalmente prefiro cidades pequenas), foi um dos melhores intercâmbios que já fiz. Acho que desde lá criamos uma conexão quase que de irmãs. Quando fui trabalhar no asilo hoje, senti saudade da companhia dela - acho que justamente porque o lado de mim que mais sobressai aqui é o meu lado Jéssica. Então amiga, quando você ler isso, saiba que estou te carregando comigo aqui para todo canto.

Sabe, apesar de ter mais dois brasileiros aqui na casa, ainda não vi NENHUM brasileiro nas ruas. Sério, nem umzinho. Nadica. Ah, e isso me lembra que fico toda confusa aqui na hora de cumprimentar as pessoas - manauara, sou acostumada a dar os dois beijinhos, né?

Bom, agora que o tempo melhorou, vou tomar banho. Já contei para vocês que passo mais tempo limpando o banheiro do que de fato tomando banho, aqui? O banheiro não tem box, então o chuveiro fica bem no centro - ou seja, quando a gente toma banho, molha tudo! Por isso, tem um rodo para você enxugar o banheiro inteiro depois que termina. A

h, e tem que tomar banho rápido mesmo, senão não sobra água quente para os outros - e você não vai querer tomar banho gelado no frio da manhã. Nunca tive tanta saudade de algo como tenho de cortinas de banho.



O Lar de Idosos

Existe uma diferença bem grandinha entre vir para cá para ensinar inglês às crianças e vir para cá para trabalhar no asilo. Ambos são serviços necessários para a comunidade daqui, mas a maioria das pessoas escolhe o primeiro - eu própria vim na intenção de dar aula. Só que, como já expliquei, as vezes precisam de você em outro canto. Quem vem num programa de trabalho voluntário tem que vir preparado para quaisquer eventuais mudanças no programa. 

Assim que cheguei, perguntei do Niff (não sei escrever o nome dele, mas é o Gerente de Projetos da Idex) em que atividades estavam precisando mais de voluntários. Quando soube que era o Lar de Idosos, imaginei um hospital grande em que serviríamos chá e brincaríamos de alguns jogos com os velhinhos - não se ofendam quando eu usar o termo "o velhinho", pois uso de forma carinhosa.

Pois bem, chegando lá, descobri que o que eu tinha imaginado era algo completamente distante da realidade. O Lar de Idosos é uma casa que fica próxima a um templo hindu em que moram vários idosos, na faixa de 70 anos. É tudo muito sujo, com pouquíssimos recursos. São cerca de 40 idosos, e todo dia temos que acordá-los, tirar as roupas, dar banho, lavar as roupas, alimentá-los, lavar os quartos e camas, e outros serviços. Existe um quarto com as camas dos homens, e um quarto com as camas das mulheres, e os guarda roupas são caixas de papelão encostadas nas paredes do canto.

Apesar de parecer que é só esforço físico, o trabalho envolve seu emocional também. São 40 velhinhos para tomar banho, e a maioria tem que ser carregado, porque não conseguem andar ou mexer os membros - eles são banhados numa cadeirinha no canto do quarto. Ao mesmo tempo em que você tem que ser rápido, tem que ser atencioso para as necessidades de cada um - alguns choram na hora de ir tomar banho, outros não deixam você tirar as roupas porque eles escondem pacotinhos de biscoitos dentro das fraldas, hihi. Por isso, você tem que equilibrar bem seu lado prático e seu lado humano. 

O que dificulta um pouco é o fato de quase nenhum falar inglês. Eles ficam conversando ou pedindo algo para a gente, e ficamos com aquela sensação de "puts, queria entender o que você tá falando, minha senhora."

Brincar com crianças de um lado para o outro é muito fácil se comparado ao esforço que nos é exigido quando cuidamos dos velhinhos. Aqui, a percepção da contribuição que você faz é mais imediata. Mas tem que deixar de lado qualquer frescura. Claro que é difícil aguentar o cheiro forte de urina quando você vai lavar os lençóis - e acho que não existe nada mais íntimo do que limpar o cocô de outra pessoa. Nunca na vida me imaginei fazendo isso. E também nunca imaginei que diante dessa situação, eu conseguiria fazer tudo sem pestanejar.

Mas ó, não digo nada disso esperando que vocês me parabenizem pelos meus atos. Amor ao próximo é uma obrigação nossa enquanto seres humanos, independentemente de sermos cristãos. Não vim para cá em busca de perdão divino, ou carma, ou sei lá. Nem vim na intenção de relatar os sofrimentos humanos, pois isso existe em qualquer canto do mundo. Repito: os heróis do mundo são aqueles que, todos os dias, batalham por um mundo melhor. Na verdade nem sei explicar para vocês as razões que me levaram a escolher esse programa.. A única coisa que eu sabia de certeza era que queria vir para a Ásia. Acho que certas vontades que surgem na gente não precisam de explicação. Só o coração conhece. 

Nessas horas lembro de um livro do John Green, intitulado "Quem é Você, Alasca?". O personagem principal menciona algumas vezes que está em busca constante por um Grande Talvez. 

Acho que é isso que busco também.

sábado, março 22, 2014

O Budismo

Aqui no Nepal, 80% da população segue o Hinduísmo. Pelo que li, a porcentagem de budistas é de 10%, enquanto a porcentagem restante se divide em Muçulmanos, Cristãos e outros. Depois que visitei o templo de Pokhara, resolvi ler um pouco mais sobre o Budismo. Vou contar aqui um pouco sobre o que aprendi - lembrando que minha mente ocidentalizada provavelmente não consegue assimilar todos os preceitos e filosofias.

Já mencionei que Buda nasceu no Nepal, né? Acredita-se que ele nasceu na cidade de Lumbini. Seu nome era Siddharta Gautama, provavelmente viveu no século VI a.C. - c.563 a.C. - c. 483 a.C. Ele era integrante de uma família muito rica da região, e vivia num palácio, cercado de luxo, desconhecendo a vida das pessoas que moravam lá fora. Buda, na verdade, é o título dado 

Então, um pouco mais velho, resolveu explorar o mundo lá fora, e foi quando entrou em contato com a miséria e pobreza pela primeira vez. Ele então abandonou o palácio em que vivia, deixando para trás sua esposa e família, e dedicou-se a buscar explicações e soluções para o sofrimento humano.

Dizem que Buda começou a meditar até alcançar a iluminação, e então passou a ensinar seus aprendizados. Ele dizia que não é suficiente alcançar um estado de paz - é preciso ensinar para aqueles que não conseguiram ainda alcançar também. O princípio básico do budismo é a busca por evitar o excesso de desejos materiais como meio de terminar com o sofrimento e insatisfação. Para isso, é preciso se dedicar a ações e pensamentos positivos e simples. Algumas pessoas me falaram aqui que Buda não é adorado como um Deus, e sim seguido como um Mestre. 

Ah, e existem várias vertentes do budismo. No Tibete, há a busca por uma jornada espiritual mais solitária. O mestre tem a função de guiar a pessoa ao longo de sua caminhada, buscando o progresso da alma. Acredita-se em quatro realidades essenciais: tudo que é terreno trás sofrimento, a fonte do sofrimento é o desejo em excesso, devemos nos libertar do sofrimento, e o caminho para a paz é feito através do exercício da paciência, da vigilância, e pelo discernimento de nossos pensamentos desequilibrados. 

21 e 22 de Março

Ontem - 21 de Março:

Gente, tenho um sério problema com sono: não sei dormir por menos de 8 horas. Então quando o despertador tocou 5 am para que a gente acordasse e fosse ver o nascer do sol, meu primeiro pensamento foi "até parece que eu vou sair da minha cama quentinha para ver o nascer do sol... Em Manaus certeza que é mais bonito, pfff". Mas depois de 10 minutos resolvi levantar e ir. Tava MUITO frio (se bem que sou suspeita para falar, pois sinto frio toda hora), então tive que comprar luvas, e isso me fez lembrar de quando minha mãe estava me ajudando a fazer as malas e eu insisti em não trazer luvas na mala "porque até parece que vou precisar, mãe!". Lição aprendida: as mães estão sempre certas (to vendo o sorriso da minha daqui).

Fomos de van para o topo da montanha (e pegamos um pouco de transito, pois todos os turistas foram fazer o mesmo). Lá em cima, ainda bem, tinha Massala Tea para comprar. Peguei uma xícara grande e fumegante, e procurei um cantinho para sentar e conversar com minha amiga Maria enquanto o sol não aparecia. E então, passados alguns minutos, o show começou. Quase engasguei com meu chá: aquele era, sem sombra de dúvidas, o nascer de sol mais sensacional que eu já vi em toda a vida. O sol estava tão vermelho, mas tão vermelho, que refletia no branco das montanhas e fazia parecer que todo o cenário tava pegando fogo. E os passarinhos voando no céu só faziam a cena ficar absurdamente mais linda.

Não demorou muito para o sol ocupar seu lugar majestoso no meio do céu, que tinha pouquíssimas nuvens. Ficamos lá por mais uns trinta minutos, na esperança de que, de repente, pudesse acontecer tudo de novo. A vista para as montanhas estava linda linda linda!

Tiramos algumas fotos, compramos alguns xales feitos de pelo de Yak (tipo um touro enorme que vive nas montanhas), e fomos ao hotel para tomar café. Pela manhã, o programa era fazer Paragliding - e eu até teria topado, mas morro de medo de altura. Então fui descansar e depois saí com as meninas para comprar algumas Pashminas - dizem que as daqui do Nepal são as melhores do mundo!

Pela tarde fomos fazer um sightseeing! Nossa primeira parada foi num templo maravilhoso, localizado no topo de uma montanha: o World Peace Pagoda. Com certeza aquela é uma das construções mais lindas que já vi na vida - imponente, branca e dourada, com uma estátua central de Buddha na entrada. Nenhuma foto tirada faz jus à sensação de estar ali. Você tem que deixar os sapatos na entrada, e subir uma grande escadaria. A paz que a gente sente ali em cima contagia cada pedacinho de você.



Depois fomos ver algumas outras atrações da cidade, como a cachoeira de Devil's Fall. Não me impressionei muito, afinal, Presidente Figueiredo dá de mil, hihi.

E então, infelizmente, começou a chover. Tivemos que voltar para o hotel, e o passeio de barco no lago foi cancelado. Então fomos para um Café que ficava na esquina, e tomamos chá com bolinhos. Voltamos e, de novo, tomamos algumas cervejinhas no terraço do hotel.

Hoje, 22 de Março:
Acordamos cedo para voltar à Kathmandu, mais uma vez uma viagem de 7 horas. Os outros voluntários da casa foram também numa road trip, só que para outro lugar. Gosto muito de todos eles, são bem divertidos. Em especial, criei afinidade com duas delas: a Fernanda, minha roomie aventureira, que é mexicana e está aqui desde janeiro (e acho que fica mais 5 meses), e a Maria, uma brasileira de Porto Alegre muito simpática, e que adora tomar chá e conversar!

Chegamos ainda agora na casa, e a chuva continua caindo, criando um clima preguiçoso em todo mundo. Acho que o programa de hoje vai ser ficar aqui na sala comum vendo filme e tomando um vinhozinho (sempre, né? haha). Amanhã temos trabalho (Domingo não é fim de semana aqui)!

Beijo e tchau.

20 de Março

Dia de road trip! Acordamos bem cedinho, pegamos um ônibus turístico na rodoviária e partimos em direção a Polkhara! 7 horas de viagem não foi fácil, gente! Para começar, as estradas são bem estreitas, porque a maioria atravessa as montanhas. E por ser cheia de buracos e pedras, acho que não passamos de 50 km/h.

O cenário é sensacional! Você vai o tempo todo vendo as montanhas, vilarejos, e até mesmo os locais de cultivo agrícola. Até chegar em Polkhara, o ônibus faz duas paradas rápidas, para quem quiser usar o banheiro ou comer alguma coisa. É interessante ver que cada vez que você vai se aproximando da área rural, as roupas das mulheres são mais típicas - tudo sempre muito colorido!

E então chegamos em Polkhara! É uma cidade pequenina, e bem bonitinha. Fica localizada na região de Pahar. É famosa pelo seu grande lago, e por ser cercada pelas montanhas do Himalaia. Assim que chegamos, fomos fazer check in no hotel The View Point (dá para ver as fotos no site: www.hviewpoint.com). É bem simples, mas bem bonitinho, e numa área bem central.

Chegamos mais ou menos às 14:30, e como tínhamos o dia livre, fomos todos fazer aquilo que mais gostamos - compras! Haha. Preciso confessar para vocês que to me tornando muito pão-dura aqui! Não aceito comprar nada sem antes pechinchar com os lojistas, porque afinal de contas "você cobrar 400 rúpias (10 reais) nessa camisa é um absurdo, meu senhor!"

Depois de dar uma voltinha na cidade e comprar alguns muitos souvernirs, fomos jantar no restaurante Moon Dance. Enfim um restaurante! Comida maravilhosa (quase chorei por estar comendo uma verdadeira lasanha, cheia de queijo e zero curry!). Reparei que eles gostam muito de ouvir jazz por aqui - quando não estão ouvindo jazz, é música típica nepalesa. Pois lá no Moon Dance estava tocando uma bela coletânea de jazz americano. Caprichei no pedido e bebi uma grande taça de vinho tinto com minha grande fatia de torta de maçã. Tudo isso por, que absurdo, 1000 rúpias (25 reais)!!

E então, já um pouco alegres, fomos para o hotel. Levamos algumas cervejas e ficamos bebendo no terraço, que tem uma vista maravilhosa de toda a cidade e das montanhas. Fomos dormir logo, porque íamos ter que acordar cedo para ver o nascer do sol nas montanhas do Himalaia...

Life is Awesome!!


Culinária

Conheço muitas pessoas que tem um pouquinho de frescura para comer fora de casa. Ainda bem que nesse quesito, eu e meu estômago temos uma aliança amigável: provo um pouquinho de tudo, e ele não reclama. Para mim, uma das coisas mais legais de se fazer em viagem é provar da culinária local! Mas apesar de eu ter adorado os chás daqui, não gostei taanto assim da comida nepalesa - principalmente porque quase tudo aqui é apimentado. 


A culinária, pelo que dizem, parece um pouquinho com a da Índia, especialmente pelos tipos de temperos (apesar de lá ser bem mais forte) - o que faz com que a comida do Brasil pareça insossa quando comparada. Já tentei, mas não consegui gostar de curry, gente!


Um ponto a favor para o Nepal foi o fato de ter sido o primeiro país que visitei em que tem arroz preparado igual ao nosso (quanto tem arroz e frango para o jantar aqui, pulo de felicidade!). A lentilha é bem saborosa, e até que eu gostei do macarrão com legumes, que é bem fininho e geralmente é frito.


Mas tem uma coisa que eu a-do-rei: o Momo! É um prato típico do Tibet que lembra um pouco o Gyouza da China - um bolinho recheado de carne ou vegetais, preparado frito ou cozido no vapor. Esqueci de tirar foto quando comi, então vou colocar uma imagem retirada do google:




Também devo acrescentar que gostei bastante das cervejas daqui, em especial a Everest e a Gokha. O problema é que nem sempre elas estão geladas (do jeito que brasileiro gosta, né?)

Aqui na residência da Idex nossa rotina funciona da seguinte forma: tomamos café às 7:30 (geralmente tem ovos, torradas, cereal, geléia.. nada muito diferente). Cada um dos voluntários vai para o seu respectivo trabalho, e retornamos por volta de 12:30. Almoçamos (já mencionei que a comida é vegetariana, né?). Depois de comer e descansar, cada um vai para o seu outro trabalho (existem vários projetos pela manhã e outros pela tarde). Retornamos por volta de 7:30 e jantamos. Tanto o almoço quanto o jantar tem comida mesmo. Nada de sanduichinho a la americanos - ainda bem!

sexta-feira, março 21, 2014

Sobre a Simplicidade

Conta-se que, certo dia, Buda reuniu seus discípulos e mostrou uma flor de lótus - símbolo da pureza, porque cresce imaculada em águas pantanosas.

- Quero que me digam algo sobre isto que tenho nas mãos - perguntou Buda.

O primeiro fez um verdadeiro tratado sobre a importância das flores.

O segundo compôs uma linda poesia sobre suas pétalas.

O terceiro inventou uma parábola usando a flor como exemplo.

Chegou a vez de Mahakashyao. Este aproximou-se de Buda, cheirou a flor, e acariciou seu rosto com uma das pétalas.

- É uma flor de lótus - disse Mahakashyao. Simples e bela.

- Eis aqui o verdadeiro sábio! Você foi o único que realmente viu o que eu tinha nas mãos - disse Buda.

quarta-feira, março 19, 2014

19 de Março

Hoje houve uma greve na cidade que fez com que nada funcionasse. Não sei se é coincidência, mas nem mesmo energia na residência nós tivemos (a internet fica ligada no no break, então dá para escrever aqui haha). 

De manhã tivemos aula de dança nepalesa, que é super confusa, mas foi bem divertido.. e cansativo! 3 horas de aula - 6 minutos de música para decorar em um dia! Haha. Depois do almoço fomos para o cinema assistir a um filme de Bollywood (não deu para compreender as falas, mas deu para entender a história, e era uma comédia bem legal.). Depois viemos para a residência e brincamos de alguns jogos, tipo Taboo. 

Fui perguntar sobre como lavar minhas roupas aqui, e descobri que a gente lava num balde lá no terraço (não faria sentido mesmo ter máquina de lavar se não tem energia). Mas vou deixar para fazer isso na segunda, porque amanhã eu e o meu grupo de voluntários - somos 6 no total - vamos fazer uma road trip para ver montanhas, em Pokhara! São 7 horas de viagem... S-E-T-E.

Provavelmente vou ficar sem escrever aqui até a volta. 

To mega ansiosa! 

Flores e Arroz

Muita gente me pergunta por que eu viajo para o outro lado do mundo para fazer trabalho voluntário ao invés de fazer na minha própria cidade. 

Respondo de duas formas: em primeiro lugar, a segurança que eu tenho aqui no Nepal é infinitamente maior do que eu teria na minha cidade. O único risco que eu corro é atravessando as ruas. Em segundo lugar, é óbvio minhas viagens não tem um propósito 100% altruísta. Eu escolhi vir para cá, assim como escolhi ir para a África no ano passado, para unir duas coisas que eu amo: conhecer um novo país, e entender de perto o cotidiano de outra sociedade. Como turistas, raramente mergulhamos profundamente na cultura do local de destino. Mas trabalhando, a gente passa a ter outra experiência, conhece muitas pessoas e passa a viver um pouquinho mais como eles vivem. 

Todo ser humano tem curiosidade sobre o funcionamento de algo. Alguns querem entender a ciência e o corpo humano, outros desvendam os números e o funcionamento do universo. Tem aqueles que adoram aprender sobre animais e a natureza. Já a minha paixão é explorar o funcionamento do mundo e das pessoas que moram nele.

Respeitar as opções dos outros é uma das maiores virtudes do ser humano. As pessoas são diferentes, agem e pensam de formas diferentes. Mesmo que você não compreenda, tem que aprender a não julgar.

Uma antiga história conta que homem estava colocando flores no túmulo de um parente, quando viu um velho chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado. Ele vira-se para o chinês e pergunta:
- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz? 
E o chinês respondeu:
- Sim, quando o seu vier cheirar as flores. 

18 de Março

Gostei muito de trabalhar no projeto de Pintura das Escolas! Primeiro a gente reforma os buracos das paredes, pinta de branco e depois vai desenhando, enfeitando um pouco. Quando eu era pequena, adorava colorir! Meus pais me davam telas e tintas de todas as cores que eu quisesse - as vantagens de ser primeira filha - e eu ficava lá pintando o dia todo. Mas aqui eles não tem muito material, e a gente tem que se virar com o que aparece. Um dos desenhos na parede ia ser uma árvore, mas não tinha a cor marrom.. Então eu aprendi a - pasme você: MISTURAR CORES! Hahaha.

Depois que saí da faculdade, desacostumei um pouquinho a trabalhar em equipe - no meu curso as atividades eram bem individuais, e você passa a maior parte do tempo pensando em tcc e prova da Ordem.. Então essa é uma parte legal do trabalho aqui.. Não tem aquela competição da "vida real". Não tem a tensão de ter que se superar a todo momento ou superar os outros. Ninguém se preocupa com reconhecimento pessoal. Você aprende a dividir as tarefas, a comida, e até a água - não dá para demorar muito no banho, porque a quantidade de água quente tem que ser suficiente pra todo mundo. O legal de pintar as salas é que você fica livre para usar sua criatividade. É uma forma de deixar sua marquinha ali naquele canto em que tantas crianças vão estar no dia a dia. Dá uma satisfação quando você percebe que mesmo algo que consideramos tão bobo, como pintar um passarinho, pode se tornar tão útil.

Nossas preocupações aqui são mínimas. Quando fiquei sem bagagem por dois dias (eles finalmente encontraram minha mala em Abu Dhabi), percebi que a única coisa da qual eu realmente senti falta foi das minhas havaianas (eu viajei de sapatilha, e acredite, não dá para usar sapatilhas aqui, tem poeira demais!). Fora isso, os dois pares de roupas que eu tinha na mochila foram suficientes. A gente fica desapegado mesmo! Nem lembro quando foi a última vez que usei maquiagem.

Li que Kathmandu, esse ano, está em quarto lugar na lista das cidades mais baratas para se morar. Para nós brasileiros, tudo aqui é MUITO barato. Comprei uma garrafa de água de um litro por 20 rúpias - o que dá, mais ou menos, 50 centavos em reais. E como toda nossa alimentação e transporte está incluso no pacote, a gente raramente mexe na carteira. E quando você vai comprar algo na rua, a regra é pechinchar - o que deixa tudo mais barato ainda.

Vamos fazer uma road trip esse fim de semana para Pokhara, que é a terceira cidade mais populosa do Nepal - e um dos destinos turísticos mais famosos. Uma viagem para lá, de três dias e duas noites, com tudo incluso (refeições, transporte e um bom hotel) vai nos custar 6.500 rúpias (Pouco menos de 160 reais).

Pois então, hoje a noite fomos para o centro da cidade jantar (todos estavam com saudade de comer carne), e tomar um vinhozinho no New Orleans. Adoro aquele restaurante!

Ah, e fiquei completamente apaixonada por um chá que eles tem aqui, o Masala chai. É tipo uma misturinha de chá preto, temperos indianos aromáticos, e leite. Muito bom! É o "café com leite" deles.


segunda-feira, março 17, 2014

O Poder da Ajuda

Certo dia, um discípulo seguiu seu Mestre em uma viagem.

Primeiro, foram até uma região onde havia fartura de arroz mas cujos habitantes possuíam talas em seus braços, o que os impedia de levarem o alimento à própria boca. No meio daquela fartura, passavam fome e eram fracos e subnutridos.

Em seguida, passaram para uma região próxima, que também tinha fartura de arroz e as pessoas também tinham os braços atados a talas, mas eram saudáveis e bem nutridas.

"Como isso é possível, Mestre?", perguntou ele.

"Nesta segunda aldeia, as pessoas usam suas talas para levar arroz à boca do outro. Dessa forma, todos se alimentam."


17 de Março

Por alguma razão, não consegui dormir nesta noite. Zero mesmo. Fui deitar pouco antes de meia noite, e fiquei acordada até o sol nascer. Não sei se foi o jet lag, ou se era a preocupação com a mala que ainda estava sumida - isso é o pesadelo de qualquer pessoa que viaja, né? Mas até que não fiquei cansada no resto do dia. Como eu sou nova, ainda não tenho trabalho na programação. Mas nenhum dos outros voluntários tinha chegado ainda, e eu já tinha passado o domingo todo dentro da casa. Então pedi para começar a trabalhar hoje.

Inicialmente eu tinha escolhido o projeto de trabalho na escola para dar aula para as crianças. Quando você chega aqui, descobre que existem mais projetos disponíveis do que aqueles que a gente vê no site. E se você quiser, pode trocar aquele que tinha escolhido, ou participar de mais de um. Como já tinha mais voluntários nas escolas e no orfanato, pedi para ir para o asilo, porque só uma das meninas da casa ia para lá hoje. Andando da casa até o asilo, acho que levamos uns 15 minutos. Em geral, os projetos não são tão longe. Não sei me localizar por aqui ainda, então fui junto com a Fernanda (minha roomie mexicana, adoro ela!).

Chegando lá, você vê um templo branco, lindo - acho que era um palácio antes. O Lar dos Idosos fica lá dentro. Não dá pra tirar foto - e nem acho que seria respeitoso tirar. Então o jeito é tentar descrever para vocês o que foi meu dia. Mas nada que eu falar aqui vai conseguir transmitir o que você vê lá ou o que sente.

O local é extremamente precário. Não tem sistema decente de esgoto, e é cheio de moscas. Mas os voluntários fazem o melhor possível diante da situação, com carinho e muita energia. Tem 40 idosos morando lá, homens e mulheres. O trabalho dos voluntários é basicamente: limpar as fraldas dos idosos, dar banho, lavar as roupas deles, levar lá para o pátio na cadeira de rodas (a maioria já não consegue mais andar), dar comida na boca (alguns não conseguem comer sozinhos), e lavar os pratos e banheiro. Pode ser bem cansativo... Levei quase 1 hora alimentando uma das mulheres de lá. De primeira você fica meio estático. Não sabe o que fazer. Mas logo você põe as mãos na massa e vai encontrando o que fazer. O trabalho lá é sempre pela parte da manhã, e o tempo até que passa rápido porque sempre tem MUITA coisa.

Mas mesmo com toda a intensidade do cenário, é possível enxergar beleza nas roupinhas coloridas que vestem nas mulheres depois do banho. Ou no sorriso que eles dão quando você tagarela sem parar em inglês - e depois descobre que eles não falam inglês. Mas carinho é universal, né? A gente entende um sorriso, independentemente do idioma. Tem alguns que até arriscam um pouco de inglês. Um dos senhores tava contando um pouco da história dele. Pelo que entendi, ele era Chaveiro antigamente, e fazia as melhores chaves da redondeza!

 Não sei descrever a sensação que você tem depois... É um pouco surreal. Você sai de lá sem acreditar que sim, você acabou de trocar as fraldas de uma senhora que você nunca viu na vida, num país que fica do outro lado do mundo. Mas é instantaneamente gratificante. Cada pedacinho de você começa a sorrir e chorar, simultaneamente.

Bem, pela tarde participei de outro projeto - pintar as paredes de uma escolinha nova. Depois conto um pouco mais sobre esse. Agora vou jantar!

Bjs!

domingo, março 16, 2014

Aonde quer que seus pés lhe levem

Aonde quer que seus pés lhe levem, siga seu próprio ritmo.
Não faça as coisas só porque ~todo mundo faz~.
Visite o que você quiser, levando o tempo que for preciso.
Não se prenda a pontos turísticos. Acorde a hora que quer, coma o que te der vontade, compre o que der na telha. Ande, dirija, fique sentado num banco... Não tem certo e errado.
Viajar é ser livre.
Claro que mostrar fotos pras pessoas que você ama é sempre divertido, mas o que importa mesmo são as memórias. E a elas, só você que tem acesso.

1st Day

Meu primeiro dia na residência da Idex foi muito tranquilo!

Cheguei ontem, a tardinha, e já conheci alguns dos outros voluntários. Fui recepcionada com um pontinho vermelho no meio da testa, haha. Pouco depois já me juntei a eles para jantar fora no New Orleans e tomar um vinho. Provei uma comida daqui chamada Momo. É tipo uma massa gordinha recheada de carne ou vegetais. E tem muito arroz, parece um pouco com o nosso no Brasil. Ah, é tudo muito barato aqui. A moeda se chama Rúpia Nepalesa - 1 real dá mais ou menos 40 rúpias. Comprei uma garrafa de 2 litros de água por 2 reais, e um kitkat por R$ 2,50.

Como minha mala está desaparecida, tive que comprar algumas coisas ontem. Ainda bem que minha mãe me convenceu de trazer na mochila algumas roupas, remédios e material de higiene (to vendo seu sorriso daqui, mãe). Hoje é um feriado nacional, o Holi. É o dia de celebrar a chegada da primavera. As pessoas se pintam de várias cores e saem brincando pelas ruas. Como é feriado, nada funciona. Nem o aeroporto (liguei para lá para saber da situação da minha bagagem, e o rapaz, muito alegremente, me explicou que não tem ninguém trabalhando hoje "afinal de contas, é dia do Holi, senhora!"). Sou tão brasileira que cheguei em dia de festa, hehe.

Já fui advertida para só sair de casa hoje com roupas velhas, porque todos estão jogando tinta uns no outros. Como eu to sem bagagem, resolvi ficar aqui na residência mesmo. Não sei quando vão achar minha mala, né? A casa é muito bacana, é como morar numa fraternidade. O staff também mora aqui. São 5 pessoas para dar assistência na casa, mas a limpeza dos quartos e banheiro é por nossa conta. E dos pratos que usamos também. Tem uma cozinheira para preparar nossas refeições: café, almoço e janta. Ah, já mencionei que a comida da casa é 100% vegetariana? Nossas fontes de proteínas vem da lentilha, ovos, cottage, grãos...

Claro que, se você não garantir comer só o que tem aqui, e não quiser gastar em restaurantes, existem mercadinhos em que você pode comprar as coisas para preparar. Mas decidi que vou tentar seguir o ritmo deles. Vamos ver se consigo ser vegetariana por algumas semanas. Inclusive, vamos ver se consigo ficar sem doces também? hahaha.

Então, o dia vai ser em casa mesmo, descansando da viagem longa e esperando o pessoal colorido voltar pra residência, haha. Amanhã os outros voluntários chegam. Enquanto isso to aqui na sala comum com os que ficaram em casa. Tem tipo uns colchões fininhos e grandes cobrindo o chão, cercados de sofás e almofadas. A gente fica deitado aqui mesmo, papeando... é bem legal. Apesar da luz ir embora quase o dia todo, a internet fica ligada no no break. As vezes é meio lentinha, mas dá para conectar.

É isso... Só o que tá faltando meeesmo é minha mala :(

Bjs

sábado, março 15, 2014

Minha Chegada

Assim que você sai do avião no aeroporto de Katmandu, já dá de cara com uma estátua de boas vindas de um Budha dourado. É um aeroporto pequeno, mas arrumadinho. Simples... (E, oh não! sem wi-fi!).

O visto você tira lá. 25 dólares americanos para um período de 15 dias. A fila é grande, mas o atendimento até que é rapidinho. E aí, pronto, cheguei no Nepal!

...

A primeira sensação que tive foi a de que ia sair correndo de volta pro aeroporto e pegar o primeiro voo de volta pro Brasil. Primeiro porque perderam minha mala. Segundo porque eu nunca tinha pego um choque cultural nas minhas outras viagens. Gente, aqui é outra coisa... Coisa que nem filme explica. De primeira, você se sente no meio de um caos. Mas depois entende que é um caos organizado. O transito é louco! Consegue ser pior que o de Manaus hehe. Mas mesmo em meio a confusão, nota-se que há um respeito, uma regra de conduta. Os pedestres atravessam tranquilamente em meio aos carros buzinando. Aliás, os carros são bem pequenininhos. A cidade é ABSURDAMENTE SEGURA. Você pode andar a vontade.

Inclusive, viemos andando pra casa e não tem luz nenhuma na ruela inteira. Há uma certa inocência nas pessoas daqui. Todas se cumprimentam com um "namastê" sorridente, e te ajudam se você precisar de direções. Um dos voluntários tava me contando que uma garota esqueceu a carteira em uma lojinha de rua, e o cara guardou pra ela, sem mexer em nada. Outra esqueceu o colar de ouro numa barraca de bijuterias, e a vendedora também guardou até que a menina voltasse. Essa segurança é perceptível quando se chega aqui.

Mas algumas coisas são difíceis de aceitar de primeira. Por exemplo: a luz vai embora duas vezes ao dia. E nem toda água é confiável para beber.
Notei que a cidade tem um cheiro próprio, nem bom nem ruim. Um cheiro diferente. É cheia de poeira e lixo nas ruas, cenário que só fica mais intenso quando você se depara com vacas e galinhas passeando normalmente. E a criançada corre de um lado pro outro na vizinhança em que fica a residência dos voluntários do Idex. É uma casa enorme, de três andares, com vários quartos e uma sala conjunta. Toda bonitinha. Os quartos super confortáveis. E os voluntários super simpáticos a acolhedores. Encontrei gente do Brasil (claro né, nós brasileiros estamos em todo canto!), Alemanha, Espanha, México, Áustria e Cingapura. Somos 15 no total. Alguns vão embora amanhã e outros chegam. Eu sou do grupo que começa nessa segunda.

 Quem já fez intercâmbio sabe como funciona: o programa começa toda segunda para um grupo  novo de pessoas, e toda sexta tem despedida de alguns. Fui a primeira do meu grupo a chegar aqui, acho que vem mais alguns brasileiros.

Quando cheguei, recebi um calendário das minhas atividades. Nos primeiros dias, não tem trabalho. É uma agenda bem cultural, com passeios educacionais sobre o Nepal, Yoga, e outras atividades. Cheguei certinho no dia anterior a um festival daqui chamado "Festa das Cores". As pessoas passam o dia jogando balões de água colorida uns nos outros, e a cidade fica cheia de concertos hindus. Parece bem legal.

Mal cheguei na residência e já saí com os outros voluntários para jantar no centro da cidade. Minha roomate é uma mexicana chamada Fernanda, super engraçada. Fomos todos em um restaurante local chamado New Orleans, com uma comida muito gostosa. Ah, não tem fast food em Kathmandu. Tinha uma Pizza Hut e um KFC, mas ambos fecharam.O jeito é comer o que a cidade tem a oferecer!

Confesso que ainda tô me sentindo um tantinho perdida aqui, e o friozinho na barriga persiste. Mas sabe a sensação de estar exatamente onde você deveria estar? Pois é...

Quase lá

Esse mundo tem muita gente. Bilhões de pessoas, de todo o tipo. E mesmo assim, as vezes você consegue umas raras proezas, do tipo: ser a única brasileira num voo Abu Dhabi-Nepal, o que rende muitas perguntas de pessoas que você encontra pelo caminho do tipo "que diabos você veio fazer aqui de tão longe?". Uma senhorinha puxou assunto comigo antes do embarque, mantendo todo o tempo uma expressão incrédula e desconfiada por eu ser uma brasileira de 22 anos viajando sozinha:"você não tá atrás de marido não, né menina?". Simpática até... acho que era indiana.

Bom, esse já era meu quarto voo. Claro que eu tava morta, né? Meu sono foi tanto que capotei logo que entrei no avião, e acordei um tempo depois com os barulhos da camera do senhor que estava sentado ao meu lado. Fiz minha melhor cara abusada de "não acredito que você está interrompendo meu sono para tirar fotos de nuvens!". Como fiquei sem sono, passei a observar as nuvens também. "Hm, até que elas estão bonitinhas mesmo. Mas o que é essa coisa branca acima delas?"

E foi aí que entendi que ele estava, na verdade, tirando fotos do Monte Everest!

O Diamante

Uma parábola Hindu conta que, certo dia, um homem chegou aos arredores de uma aldeia e lá sentou-se para dormir debaixo de uma árvore. Chegou correndo, então, um habitante daquela aldeia e disse, quase sem fôlego: 

- Aquela pedra! Eu quero aquela pedra.
- Mas que pedra? - pergunta-lhe o Hindu.
- Ontem à noite, eu vi meu Senhor Shiva e, num sonho, ele disse que eu viesse aos arredores da cidade, ao pôr-do-sol; aí devia estar um Hindu que me daria uma pedra muito grande e preciosa que me faria rico para sempre.
Então, o Hindu mexeu na sua trouxa e tirou a pedra e foi dizendo:
- Provavelmente é desta que ele lhe falou; encontrei-a numa trilha da floresta, alguns dias atrás; podes levá-la!
E assim falando, ofereceu-lhe a pedra. 

O homem olhou maravilhado para a pedra. Era um diamante e, talvez, o maior jamais visto no mundo. Pegou, pois, o diamante e foi-se embora. Mas, quando veio a noite, ele virava de um lado para o outro em sua cama sem conseguir dormir. Então, rompendo o dia, foi ver novamente o Hindu e o despertou dizendo: 

- Eu quero que me dê essa riqueza que lhe tornou possível desfazer-se de um diamante tão grande assim tão facilmente.
 

A História do Nepal

Cheguei em Abu Dhabi agora pela manhã. São 8 horas a mais do horário de Manaus. Ja mudei tanto de fuso que já perdi até a noção do tempo e me peguei querendo almoçar agora hahahah.
Enquanto espero o próximo (E ÚLTIMO) voo, resolvi pesquisar um pouquinho sobre a história do Nepal:

Dizem que antigamente a região de Catmandu era um imenso lago. Esse lago teria sido destruído por um discípulo de Buda, com uma espada especial. 
Lendas a parte, é sabido o povo quirate invadiu essa região no século VIII a.C. Assim começou uma loooonga sucessão de reis.

Por um certo período, houve domínio da Inglaterra sobre o Nepal. Ao recuperar sua independência, voltou a ser uma monarquia.

Entre 1775 e 1951, o Nepal viveu conflitos entre a família real e algumas famílias nobres. Em 1959 uma Constituição foi aprovada e instituiu-se um Congresso Nacional, que foi dissolvido pelo rei um ano mais tarde devido a muitas divergências políticas.

Vale lembrar que o Nepal, nesta época, era praticamente fechado para os estrangeiros! E mesmo os que vinham a convite da família real não tinham permissão para sair do Vale de Katmandu. 

Em 1990, vários protestos fizeram com que o rei engolisse um novo gabinete composto por figuras da oposição. Nesse mesmo ano, foi aprovada uma nova Constituição. 
Uma guerra civil iniciada pelos maoístas em 1996 terminou afastando muitos turistas. 

Curiosamente, até 2008, o Nepal continou sendo uma monarquia constitucional, em que o primeiro-ministro governava com o Conselho Nacional e com a Câmara dos Representantes, mas em 28 de Maio daquele ano, a assembleia constituinte do país aboliu a monarquia a favor da instauração de um governo republicano e democrático, acabando assim a última das monarquias hinduístas sobrevivente no século XXI.

As informações que encontrei são um pouquinho confusas - e algumas contraditórias. Imagino que o jeito vai ser terminar as pesquisas por lá mesmo. 

Bjs!

sexta-feira, março 14, 2014

Segunda Conexão

10hrs de voo. Cheguei pela manhã, e, GRAÇAS A DEUS, meu próximo voo é só 21:00h. Vim para um hotelzinho proximo do aero descansar um pouco.
Mazolhaa como tem gente pilantra em TODO CANTO: quando cheguei aqui em Paris, fui atrás de taxi. Daí uns homens - daqueles que não são taxistas mas ficam ali esperando alguém topar uma carona pelo triplo do preço - quiseram me convencer a pagar 90 euros para ir com um deles. NOVENTA, é mole? Ainda ficaram falando que nenhum dos taxistas do aeroporto toparia me levar, porque o hotel era ~perto demais~. "Faço por 50 euros para você, então, garota!"
Eu fico logo irritada! Ta aqui uma lição que aprendi: quando você não tiver um bom feeling em certas situações, não tenha medo de cair fora. Nao se preocupe se vai estar ofendendo alguém. Sei que é óbvio ter esse cuidado né, mas já fui de cair nessas leseiras quando viajava sozinha mais nova e saía no preju. Acreditava em tudo que falavam, "afinal de contas eu estou na França, e quem é que vai enganar um turista aqui?".
Virei as costas e fui pegar um taxi la na fila de fora. Resultado: apenas 10 euros para chegar no hotel.
Minha mala foi direto, então eu trouxe uma mochilinha com coisas básicas e uma muda de roupa. Próxima conexão: Abu Dhabi! (Reparem que to fazendo um tour pelos aeroportos de cada parte do mundo hahahaha).
Bjs!

quinta-feira, março 13, 2014

Learning and Teaching

Cheguei em São Paulo exausta, e ainda faltam 3 vôos até chegar em Catmandu. E nossa, to super ansiosa! Nesse momento faço minhas as palavras da escritora Elizabeth Gilbert:  Viajar é a verdadeira grande paixão da minha vida! Compensa qualquer custo ou sacrifício. Tenho pelas minhas viagens o mesmo sentimento que uma feliz nova mamãe tem por seu recém-nascido barulhento, inquieto e cheio de cólicas... não ligo para o que elas me fazem suportar! Simplesmente porque eu as adoro. Porque elas são minhas. Porque são exatamente minha cara! 

Não sei bem o que esperar de lá, e já me deu aquele frio na barriga típico de quando nos deparamos com algo novo. Deixo claro aqui que escrever no blog um pouco do meu cotidiano tem o propósito de registrar algumas das minhas memórias para que eu possa sentir meus amigos e familiares pertinho de mim. Se esses textos ajudarem alguém que também está interessado em embarcar numa viagem dessas, fico feliz, e colocarei aqui todas as infirmações que eu descobrir por lá.

No mais, não quero fazer parecer com que esta aventura seja algo homérico. Os verdadeiros heróis do mundo são aqueles que participam todos os dias da justiça social e melhora do planeta, né? Sou até da opinião de que este programa de Trabalho Voluntário, ainda que ajude outras pessoas, ajuda mais ainda a pessoa que embarca, pois é saindo da nossa zona de conforto que conseguimos entender, de fato, o quão grande o mundo é.

Estou indo na intenção de ensinar um pouco e aprender muito. Não existe aqui o "fazer sua parte". A responsabilidade que temos na melhora do mundo é constante. É gigante. É eterna. E é bem simples.

Neste momento estou embarcando para o próximo voo, mor-ta!! hahaha.
Conto um pouco mais quando chegar por lá (e se a internet permitir!)
Bjs

Antes de Embarcar

Sempre tive uma vontadezinha de conhecer a Ásia. Mas não queria num pacote de turismo, e intercâmbio de idiomas por lá seria um tantinho difícil, né? Então vi no site da CI (www.ci.com.br) a opção de ir fazer um programa de trabalho voluntário no Nepal. 

A CI é a agência pela qual eu fecho todos os meus intercâmbios, desde os 16 anos. Só tenho coisas boas a falar, tudo é organizadíssimo! Se você vai viajar sozinho, como eu, recomendo de verdade o serviço dessa empresa, viu? 

Pois então, depois de muito choramingar bastante para convencer meus pais a me deixar ir para o outro lado do mundo - essa foi a parte mais difícil, hahaha - fechei um pacote de algumas semanas para trabalhar numa comunidade gerenciada pela Idex, uma organização com sedes no Nepal e na Índia que objetiva promover programas de voluntariado para jovens. O meu vôo sai de Manaus, e passa por: São Paulo, Paris, Abu Dhabi, e.. finalmente (!!!), chega em Catmandu. Saio na quinta de manhã e chego lá no sábado a tarde.

Como eu vivo sem tempo (leia-se: com muita preguiça), só fui ler hoje o manual que a empresa manda com as instruções para os participantes. Vou explicar resumidamente como esse programa funciona: você fica hospedado em uma das acomodações da organização junto com outros voluntários do mundo inteiro, e trabalha em uma das atividades que eles tem a oferecer. É um programa que busca, ao máximo, a submersão na cultura local. Você é instruído a se portar e se vestir respeitando os costumes de lá. Mas isso é questão de bom senso em todo o mundo, né? 

Sobre o trabalho, você pode escolher entre:

1) Programas Educacionais: Nesse caso, suas atividades serão ajudar os professores locais nas salas de aula. As escolas no Nepal geralmente são muito grandes e tem uma equipe pequena, então a ajuda é realmente necessária. Quando é preciso, pode acontecer de você próprio dar aula para as crianças, geralmente de inglês ou matemática. Os voluntários também podem dar aula para crianças com necessidades especiais. Esse foi o programa que eu escolhi.
2) Pré-Escola: São creches em que os voluntários cuidam das criancinhas carentes e em fase de crescimento. O conceito de creche é diferente do que conhecemos. Lá, o propósito é dar cuidados básicos às crianças que não moram em locais apropriados para seu desenvolvimento saudável.
3) Assistência à mulher: É um programa bem diferente dos outros. Aqui, as atividades são destinadas à mulheres adultas de comunidades carentes, muitas vezes novas mamães. Os voluntários dão aulas de inglês, informática e instruções para que elas, além de melhorar a auto estima, consigam empregos.

Depois de selecionar o programa em que mais se encaixa, você é submetido a uma avaliação online do seu inglês. Se for aceito, tem que preencher uma ficha sobre suas perspectivas quanto ao programa Voluntário. Fui instruída de que quando chegar no Nepal, há uma reunião com a equipe da Idex para se certificar que você tem afinidade com a atividade que escolheu.

Nos documentos que eles enviam por e-mail semanas antes de você embarcar, existem certas informações que você deve saber antes de ir. Fiz um resuminho das mais importantes:

1- Vestimenta: é expressamente proibido o uso de roupas que escandalizem a cultura local. Mas isso é questão de bom senso, né gente? Num país em que 80% da população é Hindu, 10% budista, 8% muçulmana e 2% cristã, fica meio óbvio que shortinho não é apropriado. Eles recomendam que as mulheres voluntárias usem roupas que cubram os tornozelos e ombros. Vi que a maioria das mulheres de lá usam Sarees coloridos. Achei o máximo!
2- O uso de câmeras e vídeos dentro das áreas dos projetos não é recomendada. Então dificilmente vou ter como colocar fotos das crianças em sala de aula. 
3- Os portões das acomodações se fecham, em dias de semana, às 11:00pm. Quem for sair pela cidade e voltar depois desse horário, tem que encontrar outro local para dormir. 
4- Nos horários em que não há atividades do voluntariado, você fica livre para explorar a cidade. A própria organização oferece passeios e excursões muito legais.
5- Depois que você encerra o período do programa, recebe um certificado oficial da empresa com as informações sobre satisfação do seu trabalho. 
6- Há um refeitório próprio para os voluntários fazerem suas refeições. A alimentação é inclusa no pacote, e você pode comprar lanchinhos nos mercados locais. Depois de comer, tem que lavar os pratos e deixar tudo bonitinho. As comidas de lá tem fama de ser muito bem preparadas e temperadas, tendo como base vegetais e grãos locais.
7- Você dorme em um quarto equipado para 2-4 pessoas, com banheiro. Você recebe uma chave própria e devolve no fim do programa.
8- A acomodação dos voluntários vem equipada com cozinha, tv e área para recreações. E aliás, quem limpa seu quarto é você (e seu roomie). 
9- Há uma equipe para ajudar caso você tenha problemas de adaptação. Mas recomendo aqui para você que escolheu ir para este tipo de aventura: vá com a cabeça aberta. A sensação de poder descobrir algo novo e se adaptar é algo maravilhoso se você tiver paciência e calma. 
10- Apesar de Catmandu ser uma cidade pacata, tem que ter muito cuidado. As pessoas tem fama de ser prestativas e simpáticas, mas sabemos que existe mal em todo canto né? Li que, anos atrás, uma voluntária resolveu sair para beber e pegou carona num carro com um grupo de jovens de lá. Resultado: foi violentada.
11- Há locais próprios para acesso a internet, mas dependendo da área da cidade, a conexão pode ser um pouco lenta. Confesso que fiquei aliviada quando li isso. Eu já estava com medo de não ter como me comunicar com meus pais e amigos de lá... magiiina ficar sem whatsapp!