terça-feira, novembro 26, 2013

"LIÇÕES DA HISTÓRIA PARA UMA VIDA MELHOR"

TEMPO.

"Saber que horas são é uma droga, e a maioria de nós é viciada nisso. Se você esquecer seu relógio em casa por acidente, talvez comece a perceber a freqüência com que lança um olhar para o pulso ao longo do dia. Não saber a hora nos deixa ansiosos e frustrados.

Estamos constantemente nos apressando para poupar tempo, mas não há bancos onde depositar aquilo que economizamos. Criamos nossa obsessão com o tempo e estamos agrilhoados por correntes que nós mesmos fabricamos. Precisamos fazer muito mais do que "administrar" o tempo. A história oferece ideias que nos ajudam a resistir à tirania do relógio. 

Nossa cultura ocidental é dominada por uma noção linear do tempo: a flecha vem do passado, atravessa o presente e ruma para o futuro. Temos uma clara incapacidade de nos localizar no presente e experimentar o agora. Desenvolvemos até o notável hábito de equiparar "estar ocupado" - sem tempo - a ser bem sucedido. Diminuir a velocidade, ao que parece, tornou-se um luxo reservado sobretudo aos ricos ociosos e aos que vivem em países como a Indonésia, onde o ritmo de vida é muito mais lento.

Na ilha de Bali, tem-se uma concepção cíclica do tempo. O calendário, chamado Pawukon, compreende uma série de rodas dentro de rodas, determinando quais dias tem um significado ritual específico. Assim, a principal finalidade não indicar que dia é, mas sim que tipo de dia é. O tempo balinês se divide em dois tipos: dias cheios, em que alguma coisa de importância acontece, e dias vazios, em que não acontece grande coisa. Se você pergunta para um balinês quando ele nasceu, é bem provável que ele responda com algo equivalente a "numa quinta feira". O momento é mais significativo que o ano.

A maioria de nós compreende as virtudes de avançar mais devagar, de dedicar mais tempo para visitar os amigos, brincar com os filhos, contemplar um belo pôr do sol, saborear uma refeição deliciosa ou desenvolver uma reflexão. Mas nos parece dificílimo fazer isso. Nossa cultura da alta velocidade de prazos finais, mensagens instantâneas e lanches rápidos dificilmente o permite.


Por que nos parece tão difícil ir mais devagar? Podemos em parte, ser herdeiros de uma ética que nos encoraja a acreditar que o tempo deve ser usado sempre de "maneira produtiva e eficiente". Sentimos que deveríamos estar completando tarefas, riscando-as de uma lista. Mas é possível que muitos de nós sejamos impelidos pelo medo. Temos tanto medo de ter horas mais longas, vazias, que as enchemos de distrações, esforçamo-nos para nos manter ocupados. De certa forma, tememos o tédio. Uma explicação mais profunda é que temos medo de que uma pausa prolongada nos dê tempo para perceber que nossas vidas não estão exatamente como gostaríamos. O tempo para contemplação tornou-se objeto de medo. 

Temos uma concepção extraordinariamente estreita do que constitui o "agora". Que tal expandir nossa ideia do presente para um "longo agora", em que o agora abrange milhares de anos? Esconder seu relógio numa caixa de sapatos por uma semana é um experimento que vale a pena."


Roman Krznaric