Grande parte das lembranças que eu guardo
dessas viagens por aí são dos meus erros. Tem coisa mais engraçada do que ver
aquela linda foto num restaurante e lembrar que na verdade você foi parar ali
porque teve preguiça de comprar um mapa da cidade, se perdeu, achou que nunca
mais ia encontrar o caminho de volta e sem querer comeu a melhor comida da sua
vida num boteco perdido? Ou lembrar que por trás do sorriso da foto em que você
está montado num camelo no meio do deserto do Saara havia o sofrimento de ter
ficado uma hora inteira no sol com a bunda doendo? E quando você viajou para
competir no seu esporte e deixou a barra cair na sua cabeça? Na hora dói, mas
que sensação gostosa que é contar isso para os amigos perdendo o ar de tanto
rir.
E aliás, essa é uma das poucas coisas que
nós humanos do mundo inteiro temos em comum: nossa interminável habilidade de
errar. A gente come coisas diferentes, ri do sotaque do outro, demonstra nossos
sentimentos, sobretudo o amor, com atos nada parecidos uns dos outros (daí a
grande quantidade de brigas). Mas os erros são iguais. E as vezes ainda somos
caras de pau de julgar o erro dos outros. Então lembre: não seja ingrato com
suas falhas, elas são suas grandes companheiras. Seja gentil com suas imperfeições.
A dor e vergonha dos erros vão passar, porque se tem uma verdade universal é de
que o tempo cura quase tudo.
E quer que eu te diga uma coisa?
Você ainda vai errar muito nessa vida. Muito mesmo. Vai fazer o que não devia,
vai sair na hora errada, vai se calar quando devia fazer barulho, vai pegar o
caminho errado no trânsito quando se distrair, vai comprar um shampoo ruim por
curiosidade, vai falar coisas que vão magoar um amigo e deixar de brigar com
quem merece ouvir. Vai discutir na fila do banco, vai esquecer de alimentar o
cachorro, e vai errar a data do aniversário de casamento. Vai roubar a caneta
do escritório e vai ter vergonha de roubar um beijo. Outros erros vão
surgir. Depois você vai acordar arrependido e querendo fazer diferente. E no
dia seguinte também. E depois mais um dia, e mais um. Olhando o cenário geral,
vê no que dá: uma sequencia gigantesca de dias que você queria ter vivido
fazendo algo diferente pra evitar seus erros de acontecerem. Quanto tempo
perdido, não?
Então abrace seus erros, admita que
você não é perfeito, desacelere um pouco. Ao invés de acordar se motivando a
ser diferente de ontem, acorde lembrando das coisas boas que você fez, por
menores que sejam. Dê uma risada dos seus micos, peça perdão quando fizer algo
errado, e então esqueça. Não se preocupe se a outra pessoa não te desculpar,
quem tem que fazer isso é você. Todas as células do teu corpo existem para
isso: limpar tua barra e batalhar incansavelmente por você. Não estou dizendo
que devemos ser imprudentes ou não buscar progredir. Mas admita, vai... Você
sabe que ainda vai voltar a cometer uma linda quantidade de erros.
E a melhor parte é que cada um deles vai
ter a sua cara.