quarta-feira, março 26, 2014

As Mulheres do Nepal

Semana passada levamos algumas crianças do orfanato ao cinema. Assistimos a um filme chamado Queen, de Bollywood, que contava a história de uma garota de uma família bem tradicional indiana que é deixada pelo noivo, e fica de coração partido, mas ainda assim resolve viajar sozinha para a Europa com as passagens que tinham sido comprada para sua lua de mel. Daí na viagem ela se transforma numa mulher mais moderna, conhece pessoas de várias partes do mundo, aprende a ser mente aberta, compra roupas diferentes, etc e tal... Para mim, não foi uma história surpreendente, mas depois de entender um pouco mais sobre as mulheres dessa região da Ásia, compreendi que o efeito deste filme aqui é mais impactante. Teve um momento em que apareceu um sutiã em cima da cama da personagem, e a imagem aparece meio tremida. Minha amiga Maria me explicou que aqui a imagem de lingerie é censurada, e que mulheres não falam a palavra "calcinha" ou "sutiã" se há um homem presente. No filme, a personagem - que já tinha sido NOIVA - conhece um chef italiano e dá seu primeiro beijo (!!!!). Uma das coordenadoras daqui, uma garota nepalesa de uns vinte e poucos anos, me explicou em meio a risadinhas que nem sempre homens e mulheres se beijam antes de casar. 


 O casamento é o momento mais importante da vida da mulher nepalesa, já que isso determinará o resto de sua vida - geralmente os casamentos são arranjados pelos pais. A sociedade é dividida em castas, então as vezes há uma liberdade maior entre as castas mais baixas quanto à escolha do seu marido. Em algumas regiões, a bigamia é muito comum. Infelizmente, muitas mulheres sofrem agressões físicas e psicológicas em seus lares, mas a lei do país não as protege se elas resolvem se divorciar. As mulheres são, na prática, subordinadas aos homens.

Minha amiga Linda, da Alemanha, me contou que teve que escrever um artigo sobre as causas da grande quantidade de estupro em países como a Índia e o Nepal. Na maioria das vezes, os casos de agressão sexual são feitas por grupos de rapazes jovens. E quando a mulher procura a polícia, geralmente é estuprada novamente pelos policiais - "para aprender a lição". Lamentavelmente, a proteção dada à mulheres é bem fraca. A mentalidade patriarcal é a razão principal para que a violência. No Nepal há uma cultura de silêncio pela falta de apoio e a dificuldade de recorrer ao sistema legal.

Li que a ONU faz sua análise do status das mulheres de um país levando em conta o acesso à educação, recursos financeiros, poder político e sua autonomia pessoal para tomar decisões. Quanto analisado por esse contexto, o status das mulheres do Nepal é bem abaixo da média. Por ser uma sociedade patriarcal, a vida de uma mulher, conforme os costumes e conforme as leis, é quase que completamente controlada por seu pai ou marido. E elas não tem direito à herança. Minha impressão foi que, ao se casar, a mulher nepalesa passa a ser uma espécia de empregada do marido.

Minhas impressões das mulheres daqui foram positivas: elas são bem humoradas, simpáticas, prestativas e estão sempre sorrindo para você. A típica mulher nepalesa geralmente tem cabelos longos e escuros - algumas fazem mechas avermelhadas. Elas vestem trajes parecidos com os saris indianos chamado de guniu. O guniu pode ser trançado com algodão ou tecidos de seda. No Nepal, o sari é comumente preso ao redor da cintura e usado com um xale em separado como enfeite na parte de cima do corpo. O estilo de dobras é chamado de "haku patasi". Muitas vestem calças e roupas mais modernas, mas não mostram os ombros e nem as pernas. Nós voluntárias fomos instruídas a não usar roupas coladas ou vestidos justos.




As feições da nepalesa lembram um pouco as chinesas, pois tem os olhos puxadinhos, mas são um pouco morenas como as mulheres indianas. Elas geralmente usam aquele pontinho vermelho no meio da testa, e usam maquiagem forte nos olhos. Para minha surpresa, vi muitas meninas novinhas (de uns 3 ou 4 anos de idade) maquiadas! 



Mais da metade da população feminina do país é analfabeta, e são escassas as mulheres que estudaram inglês. A maioria das mulheres trabalha no campo, cultivando vegetais ou arroz.

Durante o período de sua menstruação, as mulheres não podem entrar em casas ou templos nem usar a rede pública de águas. A participação em festivais também lhes é vedada e nem sequer podem tocar noutras pessoas, segundo informação das Nações Unidas.