Fui chorando
o caminho todo para o aeroporto de Kathmandu. Depois de duas semanas, chegou a
hora de passar para a segunda fase da minha viagem.A idéia de vir estudar na
França me dá mais medo do que ter ido pro Nepal.
Depois de três voos, cheguei em Nice.
Linda Nice. Limpa Nice. Elegante, sem poeira, e sem barulhos de buzinas Nice.
Nice do clima quentinho - e de pessoas frias.
Minhas primeiras horas aqui foram de chororô total. Cheguei para pegar a
chave do apartamento estudantil em que vou ficar - que é uma fofura, e todo
arrumadinho - e a mulher da recepção me explicou tudo em francês, mesmo depois
de eu repetir mil vezes que só falo inglês.
Já me senti sozinha nas primeiras horas. Entrei num pequeno desespero e
comecei a pensar se não teria sido melhor fazer outro intercâmbio em inglês,
porque como-diabos-eu-vou-ficar-aqui-por-meses-sem-falar-francês?
Esse é um idioma que me
deixa nervosa... Na hora de falar, me atrapalho toda e confundo coisas básicas
como "pardon" e "merci" - o que me leva a pedir desculpas
para a moça do caixa do mercado, e agradecer quando esbarro em alguém. Vou
precisar de muita sorte - e um bom dicionário - nesses próximos meses.
Mas então sentei no chão
do meu novo lar e respirei fundo. Minha mente estava um turbilhão, mas então
lembrei que em momentos de desespero, de nada adianta perder o controle das
emoções. O local de paz da mente é o coração. Então fechei os olhos e agradeci
a Deus por todas as minhas experiências no Nepal, e por ter chegado em
segurança aqui. Em momentos de insegurança, nossa mente é como um neném:
choraminga, faz barulho, não sossega... até que você dê colo. O único lugar em
que ela encontrará paz é no silêncio de dentro do coração - é lá que Deus
mora.
O condomínio dos
apartamentos estudantis não tem sala comum, então não conheci ninguém ainda.
Amanhã é meu primeiro dia de aula, e como não consegui entender nada das
instruções, recorri ao google para pesquisar o caminho da minha escola. Dei
algumas voltas na redondeza, e fiz algumas comprinhas para estocar minha
cozinha.
Depois de um tempo
arrumando minhas coisas, meu apartamento pareceu mais confortável - meus
pertences nos armários, fotos da minha família e amigos nas estantes.
Pedi tanto a Deus que eu
tivesse um tempinho para ficar sozinha, escrever meus próximos livros e
refletir sobre meus planos para o futuro. E aqui está esse momento. Foi então que
percebi que a felicidade depende inteiramente de como vemos as coisas. Eu estou
radiantíssima por ter - ai ai ai - um banheiro próprio com água quente
interminável e um chuveiro com boxe!!