segunda-feira, abril 07, 2014

Je ne parle pas français!

Ando atrasada nos posts porque levei essa semana inteira para me adaptar à nova rotina aqui. Quando você vai do Brasil para o Nepal, sente uma diferença. Quando vai do Brasil para a França, também sente uma diferença. Mas ir do Nepal para a França é outra coisa, né colega?

Como assim eu não posso atravessar no meio da rua? E por que diabos os carros não estão buzinando? E ai-meu-pai-do-céu, que silêncio é esse na hora de dormir, o que fizeram com os cânticos hindus noturnos na casa dos vizinhos?

Essa minha experiência em Nice é bem mais individual do que a viagem para Kathmandu. Aqui eu moro sozinha, preparo minha comida (ou como em um dos muitos restaurantes da cidade), tive que me virar para acertar chegar na escola, volto para fazer o dever de casa, etc. Apesar de ser uma cidade extremamente mais arrumada que a minha, já tive que sair da minha zona de conforto nessa primeira semana. Depois de alguns dias aqui, só porque eu já sabia andar pela cidade e arriscar um francês mixuruca comprando pão na Boulangerie da esquina, já estava me achando a Miss-Independent-Francesa, até que tive que ligar para minha mãe para ela me ensinar como fazer faxina.

Então deixa eu explicar um pouco melhor essa parte da minha viagem: como eu sempre quis aprender outro idioma, optei pelo francês, porque não consigo gostar de espanhol, por ser uma língua útil e bonita. Como não queria morar numa cidade tão grande como Paris, optei por Nice, que fica no sul da França, muito pertinho de Mônaco e da Itália. Me matriculei em um curso de 3 meses numa escola chamada France Langue, que fica localizada na região central da cidade, e a 5 minutos da praia, que tem uma orla linda. Já fiz algumas aulas de francês em Manaus, mas só do básico mesmo... então aqui entrei no nível iniciante. 

Minha professora é uma senhora de 52 anos muito alegre e pequenininha chamada Brigitte. Na minha sala somos 7 garotas, cada uma de um país diferente. Além de mim tem uma médica alemã, uma arquiteta chinesa, uma enfermeira japonesa, uma cabelereira de Liechtenstein (descobri que isso é um país perto da Alemanha e da Áustria), uma estudante de hotelaria de Portugal e uma garota da Suécia. Nenhuma de nós fala mais do que o super básico. Na nossa primeira aula aprendemos o ABC - sério! Mas nossa professora é super paciente, e super fofa! A regra é só falar francês, então aos trancos e barrancos a gente vai tentando entender e ser entendida, mesmo que com mímicas - o que torna a coisa toda mais divertida ainda. Toda semana o turno das nossas aulas muda. Semana passada estudávamos pela manhã, e agora passamos para a tarde. 

Como em qualquer outro intercâmbio, você pode escolher morar com uma hostfamily, pode alugar um dos apart-studios estudantis que a escola tem, ou alugar um apartamento por si próprio. Como não vou ficar tanto tempo assim, peguei um dos studios, que é tipo um mini loft - bem pequenininho, mas confortável, com uma cozinha equipada e um banheiro todo arrumadinho. Fica localizado numa rua atrás da Promenades des Anglais - ou seja, levo 3 minutos para estar na praia. Em compensação, levo quase uns 35 minutos andando para chegar na France Langue - aliás, não sei porque em todo santo intercâmbio meu, eu dou azar de morar longe da escola. Hm, pensando bem, até mesmo na minha própria cidade eu moro longe!

Mas enfim, Nice é uma cidade relativamente pequena: tem cerca de 300 mil habitantes, alguns dos quais não falam inglês, e outros dos quais fingem não saber porque né "você está na França, então fale francês, oras!". Mas confesso que acho isso legal, esse patriotismo. Ta aí algo semelhante ao Nepal: esse orgulho cultural, a preservação dos costumes locais. Apesar de nós sermos super orgulhosos de sermos brasileiros, tendemos a ser meio encantados com as coisas que vem de outros países - em especial às tendências americanas e européias. 

Situada na Riviera Francesa, Nice é um dos destinos turísticos mais populares. E sua atração principal é... o mar! Mas apesar de lindas, as praias tem um defeitinho: são compostas de pedras ao invés de areia, o que acaba sendo meio desconfortável. Mas a orla é maravilhosa, do jeitinho que brasileiro curte: calçadas amplas para você andar de bicilceta, correr, sentar nos vários bancos de frente para o mar, ou apenas passear enquanto observa a paisagem. Como eu moro bem pertinho, todo dia acordo cedo para correr antes da aula: é sensacional! E lá você vê todo tipo de gente, em especial as famílias que levam suas crianças no fim da tarde para brincar com as pedrinhas da praia e casais de velhinhos passeando de mãos dadas - garantido uma cena de fundo bem européia.


Depois de uma semana, fico feliz de já perceber que meu francês tem progredido bastante. Já consigo me comunicar nas lojas sem fazer aquela cara de desespero - o que me lembra a terrível cena de no meu segundo dia ter explicar para uma vendedora que eu precisava de um ferro de passar. Já consigo até mesmo conversar com a recepcionista aqui do condomínio. E claro que na pior das hipóteses posso sempre recorrer ao bom e velho "Je ne parle pas français!".