domingo, março 23, 2014

O Lar de Idosos

Existe uma diferença bem grandinha entre vir para cá para ensinar inglês às crianças e vir para cá para trabalhar no asilo. Ambos são serviços necessários para a comunidade daqui, mas a maioria das pessoas escolhe o primeiro - eu própria vim na intenção de dar aula. Só que, como já expliquei, as vezes precisam de você em outro canto. Quem vem num programa de trabalho voluntário tem que vir preparado para quaisquer eventuais mudanças no programa. 

Assim que cheguei, perguntei do Niff (não sei escrever o nome dele, mas é o Gerente de Projetos da Idex) em que atividades estavam precisando mais de voluntários. Quando soube que era o Lar de Idosos, imaginei um hospital grande em que serviríamos chá e brincaríamos de alguns jogos com os velhinhos - não se ofendam quando eu usar o termo "o velhinho", pois uso de forma carinhosa.

Pois bem, chegando lá, descobri que o que eu tinha imaginado era algo completamente distante da realidade. O Lar de Idosos é uma casa que fica próxima a um templo hindu em que moram vários idosos, na faixa de 70 anos. É tudo muito sujo, com pouquíssimos recursos. São cerca de 40 idosos, e todo dia temos que acordá-los, tirar as roupas, dar banho, lavar as roupas, alimentá-los, lavar os quartos e camas, e outros serviços. Existe um quarto com as camas dos homens, e um quarto com as camas das mulheres, e os guarda roupas são caixas de papelão encostadas nas paredes do canto.

Apesar de parecer que é só esforço físico, o trabalho envolve seu emocional também. São 40 velhinhos para tomar banho, e a maioria tem que ser carregado, porque não conseguem andar ou mexer os membros - eles são banhados numa cadeirinha no canto do quarto. Ao mesmo tempo em que você tem que ser rápido, tem que ser atencioso para as necessidades de cada um - alguns choram na hora de ir tomar banho, outros não deixam você tirar as roupas porque eles escondem pacotinhos de biscoitos dentro das fraldas, hihi. Por isso, você tem que equilibrar bem seu lado prático e seu lado humano. 

O que dificulta um pouco é o fato de quase nenhum falar inglês. Eles ficam conversando ou pedindo algo para a gente, e ficamos com aquela sensação de "puts, queria entender o que você tá falando, minha senhora."

Brincar com crianças de um lado para o outro é muito fácil se comparado ao esforço que nos é exigido quando cuidamos dos velhinhos. Aqui, a percepção da contribuição que você faz é mais imediata. Mas tem que deixar de lado qualquer frescura. Claro que é difícil aguentar o cheiro forte de urina quando você vai lavar os lençóis - e acho que não existe nada mais íntimo do que limpar o cocô de outra pessoa. Nunca na vida me imaginei fazendo isso. E também nunca imaginei que diante dessa situação, eu conseguiria fazer tudo sem pestanejar.

Mas ó, não digo nada disso esperando que vocês me parabenizem pelos meus atos. Amor ao próximo é uma obrigação nossa enquanto seres humanos, independentemente de sermos cristãos. Não vim para cá em busca de perdão divino, ou carma, ou sei lá. Nem vim na intenção de relatar os sofrimentos humanos, pois isso existe em qualquer canto do mundo. Repito: os heróis do mundo são aqueles que, todos os dias, batalham por um mundo melhor. Na verdade nem sei explicar para vocês as razões que me levaram a escolher esse programa.. A única coisa que eu sabia de certeza era que queria vir para a Ásia. Acho que certas vontades que surgem na gente não precisam de explicação. Só o coração conhece. 

Nessas horas lembro de um livro do John Green, intitulado "Quem é Você, Alasca?". O personagem principal menciona algumas vezes que está em busca constante por um Grande Talvez. 

Acho que é isso que busco também.